Pe. Deolino Pedro Baldissera, sds
No Evangelho de Lucas há uma passagem que responde à pergunta sobre quem é meu próximo? A resposta está implícita numa parábola que Jesus conta para o curioso, mal-intencionado “mestre da lei”.
Trata-se de um assalto, em que alguém fica ferido à beira do cominho, sem socorro. Por ele passam três viajantes. Um sacerdote, um levita e um samaritano. Todos veem o caído! Dois deles se vão sem o mínimo gesto de solidariedade. Ambos são funcionários das coisas do templo com regras sobre a pureza. Em seus manuais religiosos, tocar no moribundo à beira do caminho era tornar-se impuro e como tal os impediria de participar do culto. Por isso seguem de consciência tranquila, justificados em nome da sua religião.
Um terceiro homem, um da Samaria, vê o caído e tem compaixão. Se aproxima, sem medo de contaminação, usa os recursos que tem, seus remédios caseiros, vinho e óleo, limpa e unta os ferimentos, coloca o ferido sobre seu cavalo e o conduz até a hospedaria. Ali contrata os serviços, pagando adiantado pelos cuidados dispensados, com a promessa de que, ao voltar, acertaria outras despesas que houvesse. Só, então retoma sua viagem.
Nota-se nesta narrativa atitudes e comportamentos contrastantes. Por um lado, os três estão diante da mesma realidade “ um caído”! Um humano caído! Dois baseados na lei, nos seus compromissos urgentes, não ativam a sensibilidade e menos ainda a solidariedade e nem a compaixão, e se vão de consciência tranquila. Afinal, não era seu parente, nem seu amigo, era um desconhecido, além disso com potencial de torná-los impuros e isso os impediria de relacionar-se com o deus que acreditavam. Segundo suas convicções estavam, portanto, dispensados de ocupar-se com um assaltado. Por outro lado, um samaritano, gente desprezível e impura, aos olhos dos outros dois, tocado pela sensibilidade se aproxima de maneira solidária e compassiva, detendo-se com o caído, prestando-lhe socorro e se comprometendo com seu restabelecimento. Diante da pergunta quem é meu próximo? A resposta óbvia está na figura desse samaritano, porque cuidou de quem precisou, sem olhar origem, descendência, condição social, raça… Simplesmente por ser um humano, sentiu-se comprometido com ele. Todos admiramos este gesto “samaritano”, porque ele toca em algo que é profundamente compreendido pela alma compassiva. Nosso mundo está carente de gente assim, encontramos mais daqueles que ocupados com seus negócios e crenças ideológicas, tomados pela indiferença não se sensibilizam diante do sofrimento alheio. As guerras atuais são exemplos dessa insensibilidade, como também aquilo que acontece em nossas cidades, bairros, famílias. Urge reavivar a compaixão amortecida em muitos, para que os esquecidos de nosso mundo, tenham uma chance de sobreviver. Para quem não perdeu a sensibilidade, não é preciso citar quais são os caídos de hoje, a própria compaixão lhes mostra. Para os indiferentes, tão pouco adiante mencioná-los. Contudo, olhar o exemplo do samaritano, ajuda a despertar o que há de melhor no coração humano, a compaixão e a solidariedade. Se você é um dos que se sente compassivo, então “vá e faça o mesmo” assim disse Jesus ao “mestre da lei”.

