Pe. Deolino Pedro Baldissera, sds
Refletindo sobre o que São Paulo, em 2cor. 12, 7s diz: “foi me dado um “espinho na carne” para que não me orgulhasse” e que pediu, por três vezes, a Deus para livrá-lo desse espinho, recebendo como resposta: “basta-te a minha graça”! O espinho na carne tornou-se um alerta constante para ele em seu cotidiano evangelizador. As fraquezas, não o impediam de realizar a missão que recebera. A presunção de ser forte apoiado em sua autorefencialidade (de judeu diplomado na Lei, aos pés de Mestre Gamaliel) estava condenada ao próprio fracasso. A consciência do espinho em sua carne o deixava com os pés no chão, aceitando suas limitações, porém, com a certeza de que Deus podia através dele, em suas fraquezas, operar seu plano de salvação entre os judeus e pagãos.
Diante da experiência de Paulo, podemos fazer algumas meditações relativas à nossa própria vida. Em primeiro lugar admitir nossos “espinhos na carne” e não os usar como desculpa para não agir. É muito comum buscarmos refúgio em nosso vitimismo para justificar a própria inércia. Identificar o “espinho na carne” nem sempre é fácil, porque, como diz São Paulo, o orgulho se torna um grande empecilho. No convívio com as pessoas sentimos nossas inseguranças e frequentes ameaças à nossa autoestima. Basta, às vezes, estar diante de um sucesso de alguém, numa área em que nós gostaríamos de estar em seu lugar, e sentir a afronta em nosso orgulho, e, para diminuir a “dor” (inveja), logo passamos a fazer críticas àquele bem-sucedido. Percebemos isso, também, acontecer nos outros quando se sentem ameaçados em sua estima pessoal baseada em sua auto presunção. Essa dinâmica é meio “diabólica” porque nos divide entre o ser real que somos e o ser idealizado que projetamos. Conviver em paz com as próprias limitações e fracassos, nem sempre é de nosso gosto. Melhor seria viver na ilusão de não ter “espinho na carne”! Faço-me constantemente a pergunta qual(is) espinho(s) na carne me incomodam e como lido com eles? Confesso que me vejo diante de meus limites e me sinto, às vezes, envergonhado, de não saber aceitar e lidar bem com eles. É preferível não mostrar e esconder, se possível, não só dos outros, mas, de mim mesmo! Já me deparei com o sentimento de inveja, de ciúme, de inferioridade, de carências, de desejos libidinosos, que me instigam, mesmo inconscientemente, mas, reluto em aceitá-los e integrá-los em meu caminho de fé. Procuro aceitar que “me basta a graça”, mas preciso dizer sempre “Senhor, aumenta minha fé”. Suportar os “espinhos na carne” é um exercício permanente, difícil de tolerar e conviver. Quão agradável seria viver sem eles, contudo, a realidade diz que isto é ilusório e desmerecedor da salvação trazia por Jesus. Deus não precisa de minha perfeição para realizar seus planos, basta minha adesão confiante em sua graça, porque, na verdade, o bem que sou capaz de fazer também é fruto de sua bondade refletida em meus gestos e ações.
Todos os dias recebo e vejo no whatsapp ou internet esse “drama” humano, essa luta diante dos “espinhos na carne” que aparecem de muitas formas. Umas escondidas nas auto referencialidades (poderia dizer, uma certa “doença” hodierna, em “aparecer”), nos selfies postados de mil maneiras criativas e que fazem, uma espécie de apelo desesperado, como quem diz: “olha pra mim”, veja como sou bonito/a, importante!” Quem me dera ser adivinho para perceber qual espinho está em sua carne, para compreender qual é sua verdadeira busca escondida em seus “selfies”. Não sou adivinho, mas, por vezes, interpreto como um pedido de socorro! Um grito por “me livre de minhas insatisfações (espinhos)”, não as suporto! Finjo que está tudo bem, olhe meu selfie com pose! São as lutas humanas por não saber confiar em “basta-te minha graça”. A busca da felicidade longe de Deus, incrementa mais os “espinhos na carne’” e se vive a ilusão que ela está escondida na beleza dos selfies, por exemplo. Neste caso, parece trocar o “basta-te minha graça”, por “basto-me a mim mesmo”!
Oxalá, possa eu e todos os que lutam com seus espinhos na carne, chegar à conclusão de Paulo: “Por isso me comprazo em minhas fraquezas, nas injúrias, nos sofrimentos, nas perseguições, nas angústias suportadas por Cristo; pois quando sou fraco, é então que sou forte”. Eis uma saída para lidar com os “espinhos na carne”!